Acusado de tráfico internacional de cocaína e preso no dia 8 de dezembro do ano passado no âmbito da Operação Sanctus, o empresário douradense Hermógenes Aparecido Mendes Filho, 49, usou dinheiro vivo para comprar uma fazenda avaliada em R$ 8 milhões, localizada no município de Paratininga (MT).
Oficialmente, segundo escritura registrada no Cartório de Paz e Notas do distrito de Primavera (MT), em 3 de janeiro de 2022, a Fazenda São Pedro, de 2.100 hectares, foi trocada por dois terrenos localizados no Bairro Parque Nova Dourados, um avaliado em R$ 400 mil e outro em R$ 700 mil.
Entretanto, “contrato de gaveta” apreendido durante as buscas no dia em que Aparecido foi preso, revelou que a propriedade foi adquirida por sete vezes o valor registrado em cartório. A diferença, de R$ 6 milhões, estava sendo paga em parcelas, em espécie. Na prática, a negociação ocorreu em 2020.
As informações fazem parte da denúncia que o MPF (Ministério Público Federal) apresentou contra Hermógenes e outras oito pessoas, em março deste ano, por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
No início de abril, o juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, da 3ª Vara Federal em Campo Grande, aceitou a denúncia e transformou oito investigados em réus, entre eles Aparecido Mendes e o irmão dele, Ronaldo Mendes Nunes, 40, que segue foragido. Aparecido está recolhido no sistema penitenciário estadual desde dezembro.
Contrato de gaveta
Conforme a denúncia do MPF, o contrato de gaveta da compra da Fazenda São Pedro foi encontrado por policiais federais, no dia 8 de dezembro, em imóvel localizado na Rua 20 de Dezembro, no Jardim Água Boa, região sul de Dourados.
Nesse endereço funciona a sede de uma transportadora, registrada em nome de Aparecido Mendes. O prédio também é a residência de Markus Verissimo de Souza, 25, um dos réus no processo.
Markus é genro de Aparecido Mendes e, segundo a investigação da PF, ajudava o sogro no esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, atuando como “contador extra-oficial” do empresário. Ele responde ao processo em liberdade.
Parcelas
A cláusula terceira do contrato de gaveta cita que o montante acordado para a transação da fazenda foi de R$ 8 milhões. Desse total, R$ 2 milhões seriam pagos em transferências bancárias em 2020, R$ 1,8 milhão em transferências de dois imóveis localizados em Dourados, R$ 800 mil em transferências de dois veículos de carga e o saldo remanescente, de R$ 3,4 milhões, seria quitado em três parcelas anuais de R$ 1.133.333,00, a serem pagas em espécie, em 2021, 2022 e 2023.
Dessas três parcelas, duas já tinham sigo pagas, no valor de R$ 2,2 milhões. A última estava vencida desde maio de 2023 e não tinha sido paga até 8 de dezembro, dia em que Aparecido Mendes foi preso.
Na denúncia, o MPF afirma que grande volume de dinheiro ilícito foi usado como pagamento da fazenda, de maneira completamente informal e oculta, pois os valores oficialmente registrados para o negócio não contemplavam essa transferência em espécie.
“Não fosse a localização do contrato durante as buscas feitas por ocasião da deflagração da operação, nem a Receita Federal, nem a Polícia Federal, nem o Coaf, nem outros entes públicos jamais saberiam da movimentação de mais de R$ 2 milhões”, afirma trecho da denúncia.
Segundo a investigação da PF, apenas por meio desse contrato, Hermógenes Aparecido Mendes Filho conseguiu tornar desnecessária qualquer explicação sobre dinheiro incompatível com suas atividades lícitas, assegurando branqueamento de R$ 6 milhões obtidos com o tráfico de drogas, uma vez, que posteriormente, a propriedade rural foi alienada por seu valor real – R$ 8 milhões.
O caso
Os irmãos Aparecido Mendes e Ronaldo Mendes Nunes são investigados por envolvimento com o tráfico de drogas há pelo menos uma década. Ronaldo chegou a cumprir pena pelo crime.
Supostamente ligados às facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho, os irmãos prosperaram em Dourados, se tornando donos de empresas de transporte, restaurante de luxo, propriedades rurais, casas de alto padrão e até cobertura em condomínio no centro de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
Entretanto, o esquema começou a desmoronar após seguidas apreensões de cargas de cocaína em pneus de caminhões que seguiam de Mato Grosso do Sul para São Paulo e Rio de Janeiro e, na volta, traziam dinheiro em espécie, também nos pneus.
A investigação da PF ligou os carregamentos aos irmãos Mendes. No dia 8 de dezembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sanctus para prender Aparecido, Ronaldo e outros envolvidos no esquema.
Na mesma data, em um barracão em Maricá (RJ), a PF apreendeu caminhão que tinha saído do Paraguai com 160 quilos de cocaína nos pneus. Jair Marques Neto, 48, e Heitor de Oliveira Buss, 49, o “Techa”, funcionários de Aparecido, foram presos em flagrante. A droga seria escondida em colchões para ser exportada de navio para a Europa.
Aparecido Mendes foi preso em Dourados, mas Ronaldo Nunes Mendes conseguiu fugir. Ele estava em Pedro Juan Caballero e escapou do cerco da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas). Segundo informações extraoficiais, a agência paraguaia chegou a localizar Ronaldo, mas ele teria sido resgatado pelo deputado paraguaio Eulalio Gómez Batista, o “Lalo Gómez”. Ronaldo segue foragido até agora. (Crédito: Campo Grande News)