O Descaso com a Educação: A Escola Municipal Bernardino Machadose Transforma em Depósito de Resíduos

 / José Pereira

Do Ensino ao Abandono: O Triste Destino da Escola Bernardino Machado em Jardim-MS

No coração do bairro Santa Luzia, na cidade de Jardim, Mato Grosso do Sul, uma tragédia silenciosa abala os alicerces de uma comunidade já marcada pela luta diária pela sobrevivência. A Escola Municipal Bernardino Machado da Silva, uma instituição que por décadas foi o berço da educação de centenas de crianças, tornou-se um símbolo do descaso e abandono do poder público. O que antes era um espaço de esperança, onde crianças brincavam e aprendiam, agora se tornou um depósito de resíduos, um reflexo amargo das políticas públicas que ignoram o direito básico à educação.

Fundada em 25 de agosto de 1989, a escola recebeu o nome do primeiro prefeito do município, Bernardino Machado da Silva, como uma forma de honrar o legado de quem tanto fez por Jardim. A escola, localizada na Rua São João, 343, foi durante anos um farol de luz e conhecimento para as crianças da região, oferecendo desde a educação infantil até as séries iniciais do ensino fundamental. Era um espaço onde sonhos eram nutridos, onde cada conquista, cada lição aprendida, era uma vitória para as famílias que ali depositavam suas esperanças.

Hoje, no entanto, a realidade é outra. A quadra de esportes, que antes ecoava com as risadas das crianças, transformou-se em um depósito de materiais recicláveis. Pilhas de papelão, plástico e outros resíduos tomaram o lugar onde antes se cultivava a saúde e o espírito de equipe. Os corredores, que outrora abrigavam fileiras de alunos ansiosos por aprender, agora estão vazios, cobertos pelo silêncio pesado de um futuro incerto.

A população local, formada em sua maioria por pessoas simples, trabalhadoras, que lutam para dar aos seus filhos um futuro melhor, está indignada. A revolta é palpável nas ruas, nas conversas que agora giram em torno da pergunta: como permitiram que isso acontecesse?

Dona Maria, de 57 anos, lembra com lágrimas nos olhos dos dias em que levava seus três filhos à escola. "Aqui eles aprenderam a ler, a escrever... Aqui fizeram seus primeiros amigos. Ver o que fizeram com essa escola é como rasgar um pedaço da nossa história", desabafa, enquanto olha para o que restou do lugar que um dia foi sagrado para sua família.

A dor da comunidade foi ainda mais intensificada pela recente demolição da Escola Municipal Oswaldo Monteiro, outra instituição que servia como pilar da educação na cidade. Com a destruição dessa escola, somada à transformação da Bernardino Machado em um depósito, a prefeita de Jardim mostrou um desprezo alarmante pela educação e pelo futuro das crianças da cidade.

Os moradores de Santa Luzia e das áreas circunvizinhas são os que mais sentem o impacto dessa decisão desastrosa. Vivendo em uma região que já carece de amparo, agora veem suas poucas opções educacionais se esvaindo, deixando um vazio difícil de preencher. "A escola era o que nos dava esperança. Sem ela, o que resta para os nossos filhos?" pergunta seu João, um morador antigo do bairro, expressando o sentimento de impotência que domina a comunidade.

Essa situação é um retrato cruel de como a educação, um direito fundamental, foi negligenciada em Jardim. A transformação de um espaço de aprendizado em um depósito de resíduos é um ato que não apenas ofende a memória de Bernardino Machado da Silva, mas também desrespeita toda a comunidade que construiu essa escola com suor e dedicação.

É impossível não se emocionar ao ver o que restou da Escola Bernardino Machado. As lembranças de um tempo em que educação e respeito andavam lado a lado contrastam fortemente com a realidade atual, onde o que antes era um símbolo de progresso agora se deteriora sob o peso do abandono.

A história da Escola Bernardino Machado da Silva é um grito de alerta para todos nós. É um testemunho de que, quando o poder público falha em sua responsabilidade, é a comunidade que paga o preço mais alto. É hora de a sociedade se unir e exigir que essa tragédia seja revertida, que a escola seja resgatada e que a dignidade seja devolvida às crianças de Jardim, que merecem mais do que apenas um depósito de resíduos onde antes havia educação.