STJ dá ordem para soltar um dos maiores traficantes da fronteira

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O pecuarista Antonio Joaquim da Mota, conhecido Tonho, que foi preso em Ponta Porã, em fevereiro deste ano, pela Polícia Federal (PF), por ligação com o tráfico internacional de drogas, teve o pedido de liberdade concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em decisão monocrática, o ministro do STJ Reynaldo Soares da Fonseca determinou o relaxamento da prisão preventiva de Tonho, por constatar que “a defesa não foi intimada para apresentar contrarrazões ao recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público contra decisão do magistrado de origem que indeferiu o pedido de prisão do paciente”.

“A Corte Regional não declinou qualquer motivação, no sentido da urgência ou do perigo da ineficácia da medida, que pudesse justificar a supressão das contrarrazões defensivas. [...] Pelo exposto, não conheço do mandamus. Porém, concedo a ordem de ofício para anular o julgamento do recurso em sentido estrito, com o consequente relaxamento da prisão preventiva”, determinou o ministro, em decisão do dia 15 de agosto deste ano.

Tonho é pai do narcotraficante Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como Motinha ou Dom, apontado como chefe de organização criminosa voltada ao tráfico internacional de drogas. 

Ele foi preso no dia 20 de fevereiro, em uma ação da PF que contou com o apoio da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

“Na ação, foi cumprido um mandado de prisão que estava em aberto contra o indivíduo pelo cometimento de crimes como posse e tráfico ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas e organização criminosa. A ação contou com o apoio da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, a Sejusp, no transporte aéreo de Ponta Porã para Campo Grande”, informou a PF em nota à época.

Tonho saiu do flagrante direto para uma das celas da Penitenciária Federal em Campo Grande, onde ainda deve estar preso. A PF não confirma transferências de detentos, mas afirma que não recebeu documento determinando a soltura do patriarca do clã.

“No momento, a Polícia Federal não possui informações sobre o cumprimento da decisão do STJ relacionada à soltura do traficante Antonio Joaquim da Mota”, disse a PF, em nota ao Correio do Estado.

Segundo investigação da PF, o patriarca do clã Mota teria ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e, ainda, com o doleiro Dario Messer, condenado em 2022 a 13 anos de prisão, por lavagem de dinheiro.

Ele seria o dono de fazendas no Brasil e no Paraguai, principalmente na região de Pedro Juan Caballero, onde criaria entre 3 mil e 6 mil cabeças de gado.

As histórias envolvendo o clã Mota, porém, começaram antes de Tonho, com o pai dele, Joaquim Francisco da Mota, que, em 1960, mudou-se da Bahia para a fronteira de Mato Grosso do Sul (ainda Mato Grosso naquela época) com o Paraguai.

Na fronteira, o avô de Motinha teria iniciado a longa lista de atividades ilícitas da família com o contrabando de café. 

Mais tarde, teria entrado para o tráfico de drogas, ao lado de outros grandes nomes da região, com Fahd Jamil.

Só mais tarde é que Tonho tomou conta dos negócios, que agora divide com o filho, conhecido como Dom por causa do filme “O Poderoso Chefão”.

Além dos homens da família, as mulheres também são investigadas. A esposa de Tonho, Cezy Mota, e sua filha, Cecyzinha Mota, também enfrentam investigação no Brasil por lavagem de dinheiro.

Em 2019, o clã Mota foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que prendeu Tonho e Cezy por conta de armamento encontrado na casa onde viviam.

Os mandados cumpridos na operação haviam sido expedidos pela 7ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.

Na época, foram encontrados na residência dele dois revólveres calibre 357, um revólver calibre 32 e uma pistola calibre 380, além de mais de uma centena de munições escondidas.

Eles chegaram a ficar presos por posse ilegal de armas, mas foram soltos após o pagamento de fiança. 

MOTINHA

Até 2019, Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, de 31 anos, não tinha grande envolvimento com a Justiça.

Porém, o que investigações da PF apontam é que ele figura como um dos grandes traficantes de Ponta Porã e que chegou a contratar serviços de um grupo paramilitar com experiência de atuação em conflitos internacionais para garantir a sua segurança, conforme matéria do Correio do Estado publicada em julho do ano passado. 

Identificado pelas autoridades brasileiras como Dom, como se autodenominava por conta do personagem mafioso Don Corleone, na região de Ponta Porã, ele também era chamado de Motinha. 

Ao contrário do pai, que foi preso neste ano, Motinha foi alvo de uma megaoperação da Polícia Federal em junho de 2023 (Magnus Dominus – Todo-poderoso, em latim), porém conseguiu fugir de helicóptero um dia antes da ação e segue foragido até hoje.

Depois disso ele já teve outros mandados de prisão expedidos, mas a PF ainda não identificou sua localização para conseguir cumpri-los.