O Rio Paraguai, principal bacia do Pantanal, enfrenta a maior seca já registrada e nesta terça-feira (9) atingiu o menor nível em 124 anos. Conforme o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o nível da água chegou aos 62 centímetros negativos no município de Ladário. Os dados são monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANAS), que faz medições automáticas a cada 15 minutos.
O órgão ambiental estadual emitiu alerta devido à situação e informou que o rio Paraguai vem apresentando queda diária de 1 a 2 centímetros. Boletim do Imasul indica que o nível mínimo para o mês de outubro é de 1,10 metros.
Especialistas e entidades ligadas à preservação ambiental têm se preocupado com o cenário e defendem que seja feita avaliação do contexto em que se insere o rio Paraguai, considerando que o Pantanal é uma conjunção de rios.
“O que temos que fazer é olhar para a natureza, garantir que nascentes fiquem protegidas, que a cobertura vegetal esteja presente no solo. Se estamos em um período de extremos, as ações precisam ser emergenciais”, enfatiza o biólogo Sérgio Barreto, coordenador do programa Cabeceiras do Pantanal, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
Cota zero
Embora o nível de água esteja abaixo da cota referencial, denominada “cota zero”, o rio Paraguai não está completamente seco, explica o Imasul. “A cota zero é uma referência histórica que marca um ponto crítico de profundidade. Quando o nível fica abaixo desse ponto, o rio ainda possui profundidades variadas ao longo do seu curso”, diz texto publicado pelo órgão.
A régua que faz a medição do nível da água do rio Paraguai em Ladário foi instalada no ano de 1900 e as piores secas ocorreram em 1964 e 2020, com nível de -0,61 e -0,60, respectivamente.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, a seca mais antiga já ocorrida no bioma, na década de 1960, durou onze anos.
“Estamos no sexto ano de seca. Não existe uma previsão segura para nos basearmos para saber quando vai terminar essa estiagem. É possível que ela seja tão longa quanto a da década de 60”, comenta.
Para Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, lençol freático e Aquífero Guarani têm mantido bacia do Alto Paraguai. — Foto: Reprodução/TV Morena
Ainda segundo Padovani, a diferença entre a seca atual e a registrada nos anos 60 é a de que a cobertura vegetal do Pantanal ainda era original, característica que tem influências no clima. “Quando você tira a cobertura vegetal original, a resposta da superfície da terra é diferente em relação à atmosfera. Então, a diferença seria mais causada pelo fator humano tanto de uso da terra, de desmatamento, quanto poluição da atmosfera por gases do efeito estufa”, afirma.