Em defesa das delegadas Elaine Benicasa, e Analu Ferraz, a Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul (ADEPOL/MS) disse não aceitar a forma unilateral e abusiva com que o crime sobre a morte da jornalista Vanessa Ricarte passou a ser tratado após a veiculação de um áudio divulgado pela vítima, no qual Vanessa faz críticas ao atendimento recebido por ela junto à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), pouco antes de ser morta.
Em nota, a associação disse que o então noivo e assassino da vítima, Caio Nascimento, é o culpado pelo ocorrido, sendo ele o responsável pelas atrocidades cometidas contra a jornalista, morta instantes depois de sair da Deam, que está localizada na Casa da Mulher Brasileira. A titular da Deam é a delegada Elaine Benicasa.
Algumas horas antes de morrer com golpes de faca na última quarta-feira (12), Vanessa enviou um áudio por aplicativo de mensagens para uma amiga, e disse que iria até sua casa para buscar seus pertences.
Em outro momento, se queixou da postura da polícia, e da forma como foi tratada ao pedir proteção. O áudio em que se queixa do tratamento recebido ao chegar à Deam [mesmo repudiado pela Adepol] causou uma reviravolta no caso.
Para um amigo, Vanessa, se queixou da frieza com que foi atendida pela delegada plantonista na madrugada de quarta-feira, quando foi à Deam (Casa da Mulher Brasileira) pela primeira vez.
Vanessa afirmou que a delegada se recusou a lhe dar detalhes do histórico de agressão do noivo, o qual horas mais tarde a mataria.
"Está explicado porque não aconteceu nada com o Caio. O jeito que ela [delegada] me tratou, bem prolixa, seca", disse Vanessa.
A jornalista continuou o desabafo ao amigo:
"Ela toda hora me cortava, e eu dizia 'eu queria entender quem que é essa pessoa'. Foi então que ela falou para mim que não poderia passar o histórico dele, mas que eu já sabia, porque ele mesmo já havia falado das agressões. Eu disse: 'Eu queria entender a natureza dessas agressões', contou Vanessa.
"Parece que tudo protege o agressor", comentou Vanessa horas antes de morrer, desabafando sobre a negativa da delegada, que justificou que os antecedentes do noivo dela são protegidos por segredo de Justiça e sigilo policial.
Ela esteve na delegacia junto de outro amigo. A ideia de Vanessa era chegar com a polícia para tirar ele de dentro de casa, disse à uma amiga, em áudio primeiramente publicado no site "Comunica na TV". A jornalista contava com a escolta policial para buscar seus pertences em casa, o que não aconteceu.
Segundo as delegadas Elaine Benicasa e Analu Ferraz, a jornalista recebeu oferta de abrigo na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o que, segundo as mesmas delegadas, foi recusado por Vanessa.
A jornalista foi com o amigo para a casa dele, mas fez uma parada em sua própria casa antes para pegar suas roupas. Ocasião em que ela foi assassinada. Caio Nascimento já estava esperando por ela.
Confira a íntegra da nota divulgada pela Adepol/MS
A Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul (ADEPOL/MS) reitera as mais profundas condolências e pesares aos amigos e familiares da vítima de feminicídio Vanessa Ricarte, morta covardemente por Caio Nascimento, com quem mantinha relacionamento e reitera o mais profundo repúdio a qualquer forma de violência contra a mulher.
No entanto a ADEPOL-MS vem a público esclarecer que não aceita a forma unilateral e abusiva com que o crime passou a ser tratado após a veiculação de um áudio atribuído à vítima, contendo críticas ao atendimento recebido pela DEAM.
O autor dessa tragédia está preso e responderá pela atrocidade cometida perante a Justiça, e a Polícia Civil, por intermédio da DEAM, ofereceu todas as orientações e todas as medidas existentes para a tutela da segurança e vida da vítima, seguindo todo o protocolo operacional existente até então, inclusive com a orientação de não voltar para casa e permanecer no alojamento da Casa da Mulher Brasileira, sugestão que não foi aceita pela vítima e não pode ser coercitiva.
Frise-se que o fornecimento de dados criminais é sigiloso, dados sigilosos não foram fornecidos para a vítima e não serão fornecidos doravante para outras pessoas, por mandamento legal.
Se o protocolo precisa ser aprimorado, o será, pois já ocorreu uma primeira reunião entre o Poder Judiciário, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e a Delegacia-Geral da Polícia Civil, mas atribuir o resultado desse crime à Delegada de Polícia que atendeu a ocorrência observando todo o protocolo existente, não coaduna com o que aconteceu e cria mais uma situação de injustiça contra uma mulher trabalhadora, mãe de família e cidadã que é a Delegada de Polícia.
O autor dessa tragédia é o feminicida preso, alterar ou subverter essa verdade não se justifica.