Marcola nega ser ‘cabeça’ do PCC e não quer ficar em presídio federal de MS

 / Danielle Valentim

Preso em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), em Presidente Bernardes-SP, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder principal do PCC (Primeiro Comando da Capital), prestou depoimento no último dia 24 de outubro em audiência da Operação Ethos. O condenado negou mais uma vez ser líder da facção e aproveitou para pedir transferência para uma “cadeia de oposição” como forma de provar não ser integrante da maior facção criminosa do País. No entanto, o detento não quer ser transferido para o presídio federal de Campo Grande.

As informações e vídeo da audiência foram publicados de forma exclusiva pelo site Ponte. Conforme a reportagem, a oitiva por videoconferência, ao juiz Gabriel Medeiros, da comarca de Presidente Venceslau, fez parte da Operação Ethos, que investiga o envolvimento de ao menos 40 advogados com a criação de uma célula jurídica do PCC chamada de “sintonia dos gravatas”.

O pedido de transferência é surpreendente, tendo em vista que se um integrante do PCC é transferido para um presídio dominado por detentos de uma facção inimiga, ou vice-versa, esse preso pode correr sérios riscos, inclusive de ser executado pelos rivais. A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) não costuma deixar detentos rivais na mesma unidade prisional.

Questionado sobre os riscos, Marcola respondeu não ter preocupação e garante que se o juiz for justo, autoriza a transferência. “Não tenho nenhuma preocupação e, inclusive, gostaria muito que esse juiz que esta presidindo essa audiência me ajudasse a ir para uma cadeia de oposição, que eles dizem, para que eu mostrasse que: como que eu posso ser líder se eu posso estar convivendo numa cadeia dessa? Mas isso dependeria muito desse juiz aí querer ser ou não, um cara justo”, disse.

O detento deixa claro, no entanto, que não quer ser transferido para um presídio federal. Ele alegou ao juiz que, se for removido para uma unidade federal, como ocorreu com outros presos do PCC de São Paulo, vai continuar sendo apontado como líder de facção criminosa. Segundo o Ministério Público Estadual, 20% dos presos recolhidos nos quatro presídios federais do País (Catanduvas-PR; Mossoró-RN; Campo Grande-MS e Porto Velho-RO) são do PCC.

“É por isso que eu citei uma cadeia de oposição, porque eu acharia muito esquisito um promotor ou delegado me acusar de ser líder do PCC estando numa cadeia dessa”, argumenta.

 

Como se tornou “líder”

Marcola é apontado ainda pelo Ministério Público Estadual como o presidente do Conselho Deliberativo do PCC. Ele também negou essa acusação. Para o Ministério Público Estadual, o Conselho Deliberativo do PCC é responsável pela criação da célula “sintonia dos gravatas”, formada para atender aos interesses jurídicos da facção.

Marcola ressaltou que nunca pertenceu ao PCC. O preso disse que começou a ser chamado de chefe do grupo a partir de outubro de 2002, quando sua ex-mulher, a advogada Ana Maria Olivatto, foi assassinada a mando da liderança da organização. Marcola acrescentou que, por causa do assassinato de Ana Olivatto, ele declarou guerra aos então líderes do PCC e, como venceu a luta contra os inimigos, passou a ser visto como líder pela massa carcerária.

“Eu não faço parte dessa organização. Quando eu briguei com os caras que eram líderes do PCC, o sistema me viu como um líder e a partir daí começou a se vincular que tudo eu resolvia eu passava, mas na verdade eu não fazia nada disso eu cuidava da minha vida tenho três filhos pequenos para cuidar e era isso que eu fazia”.

Suposto plano do PCC

Marcola está no RDD com outros 12 líderes por determinação da Justiça. Uma investigação descobriu que pelo menos 30 advogados atuavam como "funcionários" do crime organizado, repassando ordens da cúpula para os subordinados e usando contas bancárias para lavagem de dinheiro. Marcola e os demais comandavam esse esquema de dentro da cadeia.

Investigações policiais apontam que integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) se mobilizavam para resgatarem ‘Marcola’, do presídio em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Equipes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) reforçaram o policiamento na cidade.