Na rotina sofrida das periferias, médico encontrou espiritualidade e seu lado escritor

 / Amanda Amaral

O dia a dia acompanhando de perto as dificuldades de quem vive na pobreza, à margem social em Campo Grande, despertou em Alexandre Jazbic um lado até então desconhecido. Médico nas comunidades carentes, questionava tanto sofrimento e encontrou algumas respostas na espiritualidade, que fizeram surgir inspiração para explorar a escrita literária. 

Em breve, lança seu primeiro livro, ‘Fazenda Acworth’, primeiro volume da série que leva o mesmo nome, lançado pela Editora Gibim. A trama é um romance espírita que mistura ficção e história, entre o sul dos Estados Unidos e Mato Grosso do Sul.

Ao TopMídiaNews, o médico explica sobre sua estreia como escritor e suas percepções sobre um mundo espiritualizado. Leia abaixo:

Como surgiu a ideia para criar seu livro, o primeiro que já escreveu?

De alguns anos pra cá, venho me aprofundando nesse tema, a espiritualidade. Moro sozinho, às vezes não saio, e falei: ‘vou começar a escrever alguma coisa’, já que vinha estudando sobre. Criei uma série de contos, que se chama ‘Fazenda Acworth’, nome de um lago em uma fazenda na Geórgia, nos Estados Unidos. Esse lugar já visitei e é lindo, além de ser muito forte essa questão da guerra para eles. O primeiro volume está pronto e já na editora, ficando pronto até o final de abril. Serão três ou quatro volumes, lançados a cada 90 dias.

Primeiro volume da série 'Fazenda Acworth', de Alexandre Jazbik

Há um tempo venho estudando, me aprofundando em temas espirituais, espiritismo. Eu sou médico de comunidade, e de uns anos pra cá, comecei a notar o sofrimento das pessoas. Na comunidade existe muito sofrimento. Sempre achei que tinha algo por trás, comecei a ler e pesquisar sobre esses termos.

Li dois livros, que me deixaram instigado e me estimularam a escrever. Foram ‘O Céu e o Inferno’, de Allan Kardec, e ‘Crime e Castigo’, de Fiódor Dostoiévski. Esses dois livros falam sobre esse tema, principalmente sobre lei de causa e efeito, ação e reação, a colheita que as pessoas fazem na vida. As vezes uma pequena semente plantada colhe-se.

Qual o perfil da trama contada nesses volumes que irá lançar?

O primeiro é bem sombrio, é um romance espírita. Os personagens principais se conhecem na primeira encarnação, durante a Guerra Fria Civil Americana. Há todo um desenrolar que mistura ficção com história real. Eu falo realmente das batalhas, dos governantes daquela época. A filha do dono da fazenda, uma típica loura norte-americana e da aristocracia, se apaixona por um escravo, no sul dos Estados Unidos. Tem todo o desenrolar, neste volume.

Já no segundo livro, eles se reencontram, em Campo Grande, na década de 90, em outra vida. Este ainda está sendo escrito.

O livro não vai ser vendido, escrevi por satisfação pessoal, e vou fazer um coquetel de lançamento para amigos, onde os livros serão distribuídos. Quem receber o primeiro volume, também recebe os outros depois, para acompanhar a história.

E como foi essa sua estreia na literatura, seu processo de criação?

No começo me questionei se conseguiria escrever alguma coisa. Mas depois, quando você começa a escrever, a estória começa a desenvolver de uma forma tranquila e natural. Ficou bem legal. No começo, escrevia três ou quatro horas sem parar, mas tem dias que são cansativos, não dá.

Algo nesse seu caminho de conhecer mais sobre espiritualidade, transformou sua visão como médico?

Vejo mais a importância da benevolência. Da caridade. Sou médico de família, fazemos visitas nas casas e atendemos nos postos de saúde. Vejo muito sofrimento. Sai dessa nossa vida aqui que a gente conhece, nossa criação, estilo de vida. É um povo sofrido mesmo, em meio a violência doméstica, assassinato, fome, drogas, tudo isso. Miséria, sem energia elétrica, saneamento básico.

Comecei a me questionar os porquês dessas desigualdades, além do aspecto político e econômico, e me aprofundei sobre espiritualidade. Não é todo mundo que acredita, é óbvio, mas eu encontrei essa relação. Tive várias experiências que passei e me fizeram crer nisso.

A vida funciona pela lei do retorno. A gente fazer o bem, ajudar as pessoas, sem querer nada em troca. Por exemplo, vejo como é comum um médico simplesmente negar atendimento, justificar que não tem vaga, não tem como. É raro ver quem não faz isso, e atende de coração.