Menos de uma semana depois dos conflitos em Pacaraima (RR), venezuelanos que deixaram a cidade buscam refúgio em Boa Vista, capital do estado. A direção de um dos abrigos informou que os imigrantes chegaram em estado de choque, com medo e cansados. Muitos ainda estavam assustados pela perda dos poucos bens materiais.
É o caso de Tomás Planez, 61 anos, ferreiro soldador que saiu de Pacaraima depois do conflito no sábado (18), quando moradores da cidade atearam fogo contra venezuelanos depois de um assalto a um comerciante brasileiro.
Planez contou que teve todas as suas roupas, documentos e dinheiro queimados. Ele chegou em Boa Vista descalço, apenas com a roupa do corpo. “Foi terrÃvel. Foi de sexta para sábado. Primeiro, começaram a atirar fogos artificiais, depois tiros de verdade. E nós ficamos trancados onde estávamos, tirando documentaçãoâ€, relatou.
Além da perda material, o conflito separou a famÃlia de Planez que está apenas com uma das filhas no abrigo de Boa Vista. Decepcionados com o Brasil, os outros dois filhos e a mulher voltaram para a Venezuela.
Para Planez, no entanto, o sonho de conquistar um trabalho para ajudar sua famÃlia se sobrepõe à dor. “Pela situação da Venezuela, tive que mudar para buscar melhorias para mim, meus netos, filhos, familiares. Lá, não há alimentação, trabalho, tem crianças morrendo de fome, não há saúde, médico, não há nada. Tenho esperança para continuar [aqui], conseguir meu trabalho e mandar dinheiro para meus filhos e netos.â€
Dignidade
A vendedora de seguros Blanca Perosa, de 37 anos, também fugiu rumo a Boa Vista. Ela deixou seu paÃs há pouco mais de uma semana em direção a Pacaraima, depois de “perder tudo para a crise polÃtica e econômica†que atinge a Venezuela há pelo menos 3 anos.
“A classe média desapareceu no meu paÃs. Os comerciantes e microempresários lamentavelmente baixaram ao nÃvel de pobreza e a nossa carteira de clientes desapareceuâ€, contou a venezuelana.
De acordo com Blanca, era impossÃvel viver apenas com a renda do marido. “Meu esposo era funcionário estatal e não dava para sobreviver com o que o governo pagava. Tivemos que deixar empregos estáveis com salário mensal para ir à s ruas vender tudo o que se podia: comida, fruta, tortilhas de milho, tudo o que rendesse dinheiro diário para viver.â€
Blanca afirmou que a situação “ficou tão difÃcil†que decidiu vir com a famÃlia para o Brasil, mesmo que seja para permanecer ao relento. Com seus dois filhos pequenos e o marido, ela passou alguns dias nas ruas de Pacaraima. Depois, conseguiu vaga em um alojamento da Paróquia da cidade. O acolhimento livrou a famÃlia de ser vÃtima dos atos violentos que assustaram os venezuelanos no sábado (18).