Segunda-feira, 11 de junho de 2018. A manhã começa em Campo Grande com a notícia que faz a Capital testemunhar um crime típico de fronteira. Numa ação rápida, um homem é fuzilado na avenida Guaicurus e pouco depois os veículos usados no crime são encontrados incendiados.
Há um ano, a execução do policial militar reformado Ilson Martins de Figueiredo foi a primeira de uma série de quatro assassinatos com características de crime de pistolagem em Campo Grande, inquéritos depois avocados por uma força-tarefa criada pela Polícia Civil.
O grupo de investigação foi criado em 5 de novembro diante da gravidade dos crimes e da repercussão pública, “reclamando ações efetivas para o esclarecimento integral dos fatos”.
O inquérito policial 024/2018, que investiga a execução começou em sigilo máximo. A reportagem solicitou informações sobre o caso à Polícia Civil e não obteve retorno até a publicação da matéria.
O crime – Gerente de Segurança e Polícia Legislativa da Assembleia, Ilson Figueiredo, 62 anos, seguia pela avenida Guaicurus, caracterizada por grande fluxo de veículos, no Jardim Moema, no começo daquela segunda-feira, 11 de junho de 2018. A vítima conduzia um Kia Sportage, que foi interceptado pelos atiradores e atingido por vários disparos.
O plano de execução inclui dois veículos: uma picape Fiat Toro e uma caminhonete Toyota Hilux. Os atiradores que interceptaram e fuzilaram o Kia Sportage estavam na picape. “Escutei um monte de estalo. Pensei em falar que era barulho de metralhadora, foi quando o carro bateu no muro e os caras desceram da picape e continuaram metendo bala”, relatou uma testemunha ao Campo Grande News no local do crime.
Na sequência, a caminhonete reduziu a velocidade e subiu no canteiro central da avenida. Com a execução, os dos veículos saíram em alta velocidade. Foram ao menos 45 tiros de fuzil AK 47 e fuzil 556 na porta do motorista do Kia Sportage. O carro bate em um muro e Ilson morreu no local.
No asfalto, foram localizados 18 projéteis das duas armas utilizadas na execução, além de um carregador de calibre 556 e um extensor de coronha (equipamento para diminuir o impacto do fuzil).
Num roteiro clássico das execuções, a picape e a caminhonete logo foram encontradas ardendo em chamas. O fogo leva embora os vestígios. Os veículos custam no mercado a partir de R$ 90 mil e R$ 168 mil, respectivamente.
Mais três - Na madrugada de 18 de outubro do ano passado, Marcel Costa Hernandes Colombo, 31 anos, que ficou conhecido como Playboy da Mansão, foi assassinado enquanto bebia com os amigos, na Cachaçaria Brasil, na Avenida Fernando Correa da Costa, Vila Rosa Pires. Ele foi atingido por cinco tiros de pistola 9 milímetros e morreu no local.
Na noite de 26 de outubro, Orlando da Silva Fernandes, 41 anos, também foi executado a tiros de fuzil. O crime foi na Rua Enramada, no Jardim Autonomista, em Campo Grande. Ele teria entregado a executores a rotina do narcotraficante Jorge Rafaat, assassinado em junho de 2016 no Paraguai. Neste caso, o carro usado nas ações foi incendiado.
Neste ano, a força-tarefa da Policia Civil também passou a atuar no homicídio do universitário Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, ocorrido em 9 de abril. Ele manobrava uma caminhonete S-10 na garagem de casa quando foi surpreendido com disparos de fuzil. O pai do jovem chegou a levá-lo para a Santa Casa, mas ele não resistiu aos ferimentos.
A suspeita é de que ele tenha sido morto por engano e que o alvo do atirador era seu pai, o policial militar reformado Paulo Roberto Teixeira Xavier.
Arsenal – Desde 19 de maio, quando o guarda municipal Marcelo Rios, foi preso com um arsenal, que incluía seis fuzis, surgiu a suspeita da relação entre as armas e as execuções.
Na semana passada, o guarda Marcelo Rios foi denunciado à Justiça pela posse de arsenal, receptação e adulteração de veículo roubado.
No documento, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), braço do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), aponta que “não passa despercebido que várias das execuções ocorridas recentemente em Campo Grande foram perpetradas com fuzis calibre 762, que é uns dos apreendidos em poder do denunciado”.
O armamento e as munições foram remetidos à Polícia Federal para exames de eficiência, coleta de material genético, levantamento de impressão papiloscópica e confronto com os estojos e projéteis recolhidos nos locais das execuções.