Quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou que 100% das urnas de Jardim foram apuradas, o resultado mostrou que pela primeira vez uma mulher foi a mais votada para a Prefeitura do município, localizado a 233 quilômetros de Campo Grande. Além dela, outras quatro mulheres foram eleitas para compor a Câmara Municipal de Jardim.
“Eu acredito que isso é uma renovação e um avanço para nossa cidade. Ninguém acreditava em mim por eu ser mulher. Comecei com 1% nas pesquisas e acabei crescendo”, afirmou a advogada Clediane Areco Matzenbacher (Democratas – DEM), de 42 anos, sobre a sua vitória para prefeita.
Dos 11 vereadores eleitos no domingo (15), quatro são mulheres. Jakeline Ayala (PSD), Tereza Moreira (DEM), Rosi Maciel da Silva (PSDB) e Andrea Insfran (MDB).
Esse resultado significa para Jakeline, que aparece como a mais votada, com 640 votos, a esperança de que mais mulheres ocupem espaços de decisão. “Acredito que esse é um momento de empoderar a mulherada para se envolver na política. Não adianta só empurrar uma mulher para a candidatura, é importante que a gente dê espaço para que elas se envolvam em projetos. É preciso destacar que não queremos preencher cota feminina, queremos transformar”, diz a vereadora mais votada.
As duas recém-eleitas afirmam que enfrentaram muita resistência até chegar à política e tiveram lutar pela aprovação. Se numa capital o machismo já é visível, numa cidade do interior nem se fala. “No começo foi difícil, alguns não queriam. Havia até uma aposta de que eu não assumiria a presidência do partido", revela Clediane. "Há uma sub-representação da mulher nos espaços da política. Mas com o tempo o partido acreditou no meu potencial, ganhei apoio e me vi ganhando força, principalmente entre as mulheres”, acrescenta.
Clediane é Advogada com pós-graduação em Direito Civil, Processo Civil, Direito Eleitoral e Improbidade Administrada e doutora em Ciências Jurídicas e Sociais. Mãe de dois filhos e casada, nasceu e se criou em Jardim. Diz que se formou depois dos 30 e a chegada à sala de aula na vida adulta se tornou uma inspiração para mulheres ao seu redor.
Morou um período no Mato Grosso onde se envolveu nos bastidores da política. “Quando voltei para Jardim vi que nossa cidade estava com bastante dificuldade, e sempre gostei de trabalhos. Fundei a Associação Laços de Maria, com atendimentos às vitimas de violência doméstica, em 2018. A partir daí comecei a cogitar uma possível candidatura”, conta.
Clediane atribui sua vitória à confiança das mulheres. “Eu sinto que hoje as mulheres estão hoje em acreditando mais em si e estão se unindo mais, isso é muito importante. Só o fato de a gente parar para ouvir outra mulher faz muito a diferença. Quando eu voltei a estudar, por exemplo, muitas mulheres me tiveram como inspiração.”
Para a prefeita eleita a vitória das mulheres no interior de Mato Grosso do Sul também é chance de ensinar outros municípios a votar nas mulheres. “Jardim deu uma demonstração que nós mulheres podemos e vamos conseguir ter o nosso espaço na política. Além disso, estou fazendo história, nunca uma mulher assumiu a prefeitura daqui”, finaliza.
Para a prefeita eleita a vitória das mulheres no interior de Mato Grosso do Sul também é chance de ensinar outros municípios a votar nas mulheres. “Jardim deu uma demonstração que nós mulheres podemos e vamos conseguir ter o nosso espaço na política. Além disso, estou fazendo história, nunca uma mulher assumiu a prefeitura daqui”, finaliza.
Caindo a ficha, mas cheia de planos – A vereadora eleita mais votada também se diz “emocionada” com chance de ocupar uma cadeira na câmara municipal e cheia de planos. Essa foi a primeira vez que se candidatou, mas sua história com a política envolve laços afetivos.
“Meu pai sempre mexeu com política, ele nunca teve mandato, mas numa campanha, anos atrás, ele fez um projeto para que eu fosse candidata. Mas naquele tempo eu não tinha formado uma opinião sobre a importância da representatividade feminina na política”, conta.
Foi depois de casada que passou a olhar a política com outros olhos, mas precisou enfrentar uma resistência própria. “Eu não tenho vergonha de dizer que quando me casei e depois de um tempo meu esposo se candidatou, eu não era convencida de que tinha importância na política. Achava que minha figura era de apenas de esposa para ajudar na candidatura dele. Com o tempo fui para dentro da assistência e passei a ajudar pessoas. Eu gosto desse contato com gente e foi assim que passei a ganhar o apoio de muitas pessoas, principalmente mulheres”.
Para ela, além das políticas públicas voltadas às mulheres, o trabalho também será voltado ao empoderamento feminino. “Meu pai era um homem à frente do seu tempo que acreditava na mulher na política, mas ainda tem mundo lá fora dizendo que não. Percebi ao longo dos anos que mulheres na política aparecem quando algum homem da casa já foi político, mas a gente não precisa esperar do homem. Podemos e precisamos lutar juntas”, encerra.