Cercada por montanhas e à margem do rio Paraguai, a Escola Municipal Rural Polo Porto Esperança, da comunidade pantaneira Barra do São Lourenço, na região da Serra do Molar, em Corumbá, está na iminência de desabar, colocando em perigo professores e alunos que moram na unidade escolar. Além disso, a localização da escola oferece alto risco à saúdeem épocas de cheias, em decorrência da proliferação de bactérias, com a mistura de água e dejetos de fossa.
Nesta semana (nos dias 8 e 9), será realizada consulta à comunidade, promovida pelo MPF (Ministério Público Federal) para discutir a transferência da escola para outro prédio, mais distante do rio e a ser construído em modelo sustentável, de baixo custo e adaptado às particulares geográficas do local.
Participarão do encontro, além do MPF, o Ecoa (Ecologia e Ação), ONG (Organização Não Governamental) que atua em questões ambientais, a Secretaria Municipal de Educação, a Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, a Superintendência do Patrimônio da União em Mato Grosso do Sul, a UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O biólogo André Luiz Siqueira, presidente do Ecoa, informou que a comunidade é formada, sobretudo, por índios Guatós e Bororós, que perderam seus territórios originais e passaram a morar na região, isolada, alagada quase o ano todo, de difícil acesso e de sobrevivência sofrida.
Na escola, há aproximadamente 40 alunos. Além dos que residem na própria localidade, a unidade escolar também atende crianças e (algumas vezes, adultos) das comunidades vizinhas. Em se tratando de realidade ribeirinha, vizinhança não significa, necessariamente, proximidade. Alguns alunos precisam viajar, por horas, de barco, único meio de transporte para chegar ao local.
Devido ao difícil acesso e ao isolamento, a escola funciona também como moradia para crianças de outras comunidades. André Luiz informou que, atualmente, há 16 pessoas fazendo da escola um lar: são 11 alunos, três professores e duas funcionárias administrativas. Eles só retornam para suas casas durante as férias escolares.
Há, na escola, duas salas de aula multisseriadas, com turmas do Ensino Fundamental, informou o presidente do Ecoa. Ele acrescenta que, no prédio, tem, ainda, uma sala de informática, uma brinquedoteca, uma cozinha, dois banheiros (feminino e masculino) e dois alojamentos (também feminino e masculino).
Riscos – O biólogo, que acompanha a região há mais de uma década, contou que a escola, devido à precariedade da construção e à ação de anos das águas do rio, apresenta sério risco de desabamento. A qualquer momento, o prédio pode cair.
Além disso, de acordo com André Luiz, há outro problema: quando o rio sobe, as águas se misturam aos resíduos de fossa, instalada ao lado da escola. “As pessoas ficam, assim, vulneráveis à contaminação bacteriana”, disse, em menção ao ambiente insalubre.
Ele lembra que um menino precisou amputar os dedos de um dos pés e, de acordo com a comunidade, isso ocorreu devido à doença causada por bactérias. “É comum as crianças ficarem descalças, andando pela comunidade, jogando bola no campinho”, comentou o biólogo. O lugar permanece por muito tempo alagado.
Transferência – A construção de escola em outro local será discutido com a comunidade. Caso haja aceitação, o prédio será feito a cerca de seis quilômetros da escola atual, de acordo com André Luiz. O MPF, o Ecoa e as demais entidades buscarão recurso governamental.
A construção será no modelo de projeto do Ecoa, denominado “Casas adaptadas para comunidades tradicionais do Pantanal”. Prédios desse projeto apresentam, conforme a ONG, “tecnologias construtivas, sustentáveis e de baixo custo, com mecanismos adequados para fazer frente a eventos climáticos extremos e outros fenômenos naturais da planície pantaneira”