Basta abrir os jornais para saber que Ă© perigoso ser mulher em Mato Grosso do Sul. E as estatĂsticas policiais confirmam. Os nĂșmeros da PolĂcia Militar, por exemplo, indicam que, enquanto vocĂȘ faz um lanche ou sai de casa para o trabalho, pelo menos uma mulher jĂĄ enfrentou um ato violento dentro da prĂłpria casa. Nesta segunda-feira (7), aniversĂĄrio de 11 anos da Lei Maria da Penha, MS chega aos 5.850 casos de violĂȘncia domĂ©stica em um ano.
Numericamente, uma mulher vivenciou a violĂȘncia em casa a cada 90 minutos nos Ășltimos 12 meses. FĂsica ou velada, ela Ă© praticada em ambiente familiar e no paĂs, mais de 80% dos casos tĂȘm como vĂtimas as mulheres. Neste mesmo um ano, foram registrados oficialmente 36 feminicĂdios no Estado. SĂŁo trĂȘs mulheres mortas por serem mulher a cada mĂȘs.
O Estado registrou, nos trĂȘs primeiros meses deste ano, 5 mil ocorrĂȘncias de violĂȘncia somente contra a mulher â o que corresponde a uma denĂșncia a cada 1 hora e 27 minutos. Os dados sĂŁo da Secretaria Estadual de PolĂticas para as Mulheres.
Â
Desde março de 2015 atĂ© julho de 2017, segundo os registros da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança PĂșblica) e do MinistĂ©rio PĂșblico Estadual levantados pela Rede de Controle da GestĂŁo PĂșblica, foram registrados 148 casos definidos como feminicĂdios ou tentativas.
Desse total, foram 44 feminicĂdios consumados e 67 feminicĂdios tentados. Sendo que 67 jĂĄ foram julgados, em 59 casos, houve condenação e em apenas 8 casos, houve absolvição dos acusados. E apenas 44 casos aguardam julgamento.
FeminicĂdio
Para tentar coibir a violĂȘncia direcionada Ă mulher no dia-a-dia da brasileira, ainda grifado pelo corretor ortogrĂĄfico, o feminicĂdio Ă© crime previsto no CĂłdigo Penal Brasileiro desde 2015, inciso VII , § 2Âș do Art 121, que significa "matar cĂŽnjuge, companheiro ou parente consanguĂneo atĂ© terceiro grau, em razĂŁo dessa condição". O inciso VI, § 2Âș do Art 121 (Matar alguĂ©m) tambĂ©m define feminicĂdio como "matar mulher por razĂ”es da condição de sexo feminino".
Apesar da nova designação do código, a crime de ódio contra a mulher é histórico. Somente neste ano, vårios casos chocaram Campo Grande pela crueldade dos assassinatos. Pùmella Jennifer, de 32 anos, foi morta a tiros pelo ex-marido, Johnny Teodoro Souza, de 31 anos, enquanto trabalhava.
Por trĂȘs vezes ela entrou com pedidos de medida protetiva contra o ex-marido e os retirou para dar chances ao relacionamento.
Em julho, Mayara Amaral foi assassinada por Luis Alberto Bastos Barbosa, de 29 anos e Ronaldo da Silva Onedo, de 30, segundo a PolĂcia Civil. Em primeiro depoimento, Luis disse aos policiais que mantinha relacionamento com Mayara e que tinha combinado de irem a um motel, juntos.
VĂĄrias suspeitas sobre a histĂłria fizeram, alĂ©m da polĂcia, a imprensa local e nacional duvidar do depoimento dos suspeitos. ApĂłs afirmar que teria matado Mayara para matĂĄ-la, Luis mudou seu depoimento Ă uma revista de circulação nacional e disse ter matado a musicista por raiva. Para a polĂcia, uma tentativa de usar o crime de feminicĂdio para tentar diminuir a pena, jĂĄ que se indiciado por latrocĂnio, ele passarĂĄ mais tempo preso.
A defesa tenta registrar o novo depoimento em inquĂ©rito, mas ele foi concluĂdo na Ășltima sexta-feira (04) e apresentado Ă Justiça como latrocĂnio. Agora, a defesa tenta junto Ă Promotoria que o prazo do inquĂ©rito seja aumentado para o registro da nova versĂŁo.
A Lei
Enquanto dormia no ano de 1983, a farmacĂȘutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes nĂŁo imaginava que receberia um tiro do seu entĂŁo marido Marco AntĂŽnio Heredia Viveiros, que a deixou paraplĂ©gica.
23 anos apĂłs, a lei que coibiria a violĂȘncia contra a mulher levaria seu nome, sancionada pelo presidente Lula. A violĂȘncia contra a farmacĂȘutica ainda perdurou. ApĂłs a recuperação, ela foi mantida em cĂĄrcere privado, sofreu outras agressĂ”es e nova tentativa de assassinato por eletrocução.
Qualquer pessoa pode denunciar a violĂȘncia contra