A última pesquisa do instituto Datafolha, além das intenções de voto, trouxe também os índices de rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com o levantamento, 55% dos eleitores indicaram que "não votariam" no presidente Bolsonaro nestas eleições. E foram 35% que disseram que "não votariam" em Lula.
Entre os segmentos do eleitorado, o Datafolha mostrou que Bolsonaro tem o pior índice de rejeição (66%) entre os desempregados. Na sequência, aparecem os eleitores pretos (63%) e os do Nordeste (62%).
Já os grupos que mais rejeitam Lula são os empresários (61%), mais ricos (57% entre quem ganha de 5 a 10 mínimos e 52% entre quem tem renda acima de 10 mínimos) e pessoas com nível superior (46%).
As campanhas tanto de Bolsonaro quanto de Lula já estão cientes dessas rejeições e elaboram estratégias para reverter esses índices.
Bolsonaro faz ofensiva entre desempregados e no Nordeste
A campanha do presidente Bolsonaro tem feito uma série de estratégias no intuito de modular o discurso para reverter os índices de rejeição. Na semana passada, por exemplo, ele usou as redes sociais para divulgar um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostrou uma queda na taxa de desemprego no Brasil para 9,4% em abril de 2022. Esse é o menor patamar desde outubro de 2015, segundo o estudo.
Na mesma publicação, Bolsonaro culpou o PT pelas taxas de desemprego anteriores. De acordo com o presidente, a sigla do ex-presidente Lula foi responsável "pelo maior esquema da história do país". "O que conseguiram destruir em tempos normais, o Brasil está recuperando em meio a uma guerra e uma pandemia!", escreveu o presidente.
Em outra frente, a campanha de Bolsonaro intensificou as idas do presidente ao Nordeste para avançar sobre o eleitorado da região. Recentemente, durante reunião com o marqueteiro Duda Lima e aliados como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, Bolsonaro foi orientado a usar todas as oportunidades que tivesse na região para fazer a defesa do Auxílio Brasil e de outras iniciativas que geraram emprego.
Dados do Ministério da Cidadania mostram que 47% dos beneficiários do programa social estão nos estados do Nordeste. Em 24 de junho, durante sua passagem pela Paraíba, por exemplo, Bolsonaro aproveitou para anunciar o reajuste de R$ 200 no Auxílio Brasil. No dia anterior, o presidente já havia participado de uma motociata em Pernambuco. E na última segunda-feira (27) o chefe do Palácio do Planalto esteve em Maceió (AL) para fazer entregas de moradias para famílias de baixa renda.
Na agenda pela capital de Alagoas, Bolsonaro esteve ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do senador Fernando Collor (PTB), pré-candidato ao governo do estado. Na ocasião, Lira afirmou que o eleitorado não podia cair nas fake news contra o governo.
"Aqui nós vamos fazer de tudo para o senhor ter a maior votação proporcional do Nordeste no Brasil. Nesse tempo de polarização política e muito ódio disseminado, nós não podemos nos curvar às versões e fake news que tentam impor toda dificuldade a um governo que pensa no seu povo e naqueles que são menos favorecidos", afirmou Lira.
Bolsonaro voltou ao Nordeste na sexta (1.º) para uma série de agendas na Bahia, que se estenderam pelo fim de semana. Na agenda presidencial havia compromissos marcados em Feira de Santana, Cruz das Almas e no estaleiro Enseada, em Maragogipe para o dia 1.º.
Já neste sábado (2), Bolsonaro esteve em Salvador, onde participou de uma motociata. Um pouco antes, em discurso na capital baiana, o presidente voltou a criticar a postura de governadores em relação aos preços dos combustíveis e disse que o país pode passar a ter “o combustível mais barato do mundo”.
Jovens e mulheres também entram na mira da campanha de Bolsonaro
O Datafolha também mostrou que Bolsonaro tem alta rejeição entre os estudantes (62%), as mulheres (61%), os católicos (61%) e os jovens (60%).
Para tentar atrair o eleitorado feminino, a campanha do presidente tentou atrair a primeira-dama Michelle Bolsonaro para as inserções do PL na propaganda partidária. Michelle, no entanto, tem resistido ao movimento e até o momento ainda não aceitou os convites dos marqueteiros de Bolsonaro.
Em outra frente, aliados do governo comemoraram a indicação de Daniella Marques para a presidência da Caixa depois da demissão de Pedro Guimarães. Na avaliação do entorno do Planalto, a indicação de uma mulher para o posto sinaliza que o presidente não compactua com o comportamento apresentado por Guimarães, foco de denúncias de assédio sexual contra funcionárias do banco. Daniella Marques era secretária de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Já em relação ao eleitorado jovem, Bolsonaro usou as primeiras inserções da propaganda partidária do PL para acenar ao grupo. Nas peças, o presidente apareceu conversando com jovens e focando no discurso de que a família é a base da sociedade. Em outra frente, a campanha de Bolsonaro tem investido em vídeos curtos para o TikTok e o Kwai, redes que fazem sucesso entre os mais jovens.
Em algumas publicações Bolsonaro aposta em vídeos bem-humorados. Nos mais recentes, por exemplo, o presidente posa para uma foto ao som de uma música do cantor americano Marvin Gaye. Em outro, faz uma interação com um cachorro que segura uma bola de futebol com a boca.
Lula usa Alckmin para diminuir rejeição entre os mais ricos
Para tentar contornar a rejeição entre os empresários e na população mais rica, a campanha do PT iniciou uma série de reuniões com representantes do setor produtivo nas últimas semanas. Nessa estratégia, o petista tem sido acompanhado sempre do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), indicado como vice.
Em um jantar na semana que passou, Lula falou em atrair investimentos estrangeiros para a economia brasileira. De acordo com integrantes do PT, o ex-presidente indicou ainda que, se eleito, seu governo não terá surpresas na economia. No mesmo encontro Alckmin disse aos empresários que Lula sempre foi um homem de diálogo, conciliador e agregador.
Neste começo de julho, Lula e Geraldo Alckmin irão à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para apresentar o plano de diretrizes de governo ao presidente da federação, Josué Gomes da Silva.
Comitê Evangélico trabalha para Lula atrair religiosos
Além dos mais ricos, o segmento evangélico está entre os que mais rejeitam o ex-presidente Lula. De acordo com o Datafolha, 46% dos eleitores desse grupo "não votariam" no petista.
Em uma das estratégias para reverter essa rejeição, o Comitê Evangélico do PT lançou uma ofensiva para se prevenir de notícias falsas contra Lula, direcionadas a esse segmento do eleitorado, que o partido acredita que serão divulgadas.
"Nós estamos falando de uma construção. Precisamos fazer parceria com todo mundo para derrubar um projeto da mentira em curso no nosso meio [evangélico]. Dá tempo de repensar as estratégias e temos o desafio de fazê-lo. Essa vai ser uma batalha homem a homem, mulher a mulher, ombro a ombro", disse Ariovaldo Ramos, pastor e coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. "Os evangélicos são muitos, são plurais e diferentes. É falso que haja alguns poucos líderes que sejam os porta-vozes e representantes de todos", disse Magali do Nascimento, integrante do Conselho Mundial de Igrejas.
A expectativa é de que o Comitê Evangélico prepare ações para auxiliar na identificação das notícias falsas e trabalhe com lideranças da área para atuar na comunicação da campanha. Entre os evangélicos, Bolsonaro alcança 36% das intenções de voto, ante 28% do ex-presidente Lula, segundo o Datafolha.