Dois paraguaios que faziam instalação de câmeras de segurança em residências e empresas de Ponta Porã, cidade a 323 km de Campo Grande, foram sequestrados, torturados e só não morreram porque conseguiram fugir do porta-malas do carro em que estavam sendo levados, possivelmente para o local onde seriam executados.
O fato ocorreu no dia 19 deste mês, mas só agora chegou ao conhecimento de jornalistas da fronteira, já que Marcos Blanco, 29, e Luis Fernando Nara Aguirre, 28, ficaram por vários dias internados em um hospital de Pedro Juan Caballero, se recuperando dos ferimentos.
O que chama a atenção, segundo o site Porã News, é que os dois teriam sido os técnicos que instalaram as câmeras de segurança em um posto de combustíveis localizado na saída para o município de Antônio João.
Foi no pátio desse posto que no dia 12 deste mês os irmãos Rodnei Campos dos Santos, 27, e Ednei Bruno Ortiz Amorim, 20, foram vistos pela última vez, sendo abordados por quatro policiais do DOF (Departamento de Operações de Fronteira).
A gravação da câmera mostrando a abordagem e os irmãos sendo levados pelos policiais na viatura e no Golf de Ednei foi parar nas redes sociais quatro dias após a abordagem. Os paraguaios foram acusados de espalhar a gravação.
Sequestro – Conforme revelou o site Porã News, o sequestro dos paraguaios ocorreu no dia 19, uma semana após o desaparecimento dos irmãos Rodnei e Ednei. Eles teriam sido chamados para fazer um serviço no bairro Marambaia, em Ponta Porã, mas quando chegaram ao local foram dominados e torturados por várias horas.
Em depoimento a policiais paraguaios depois que deixaram o hospital regional e Pedro Juan, os dois técnicos contaram que foram colocados no porta-malas de um carro Volkswagen sedã vermelho, com placa do Paraguai, mas conseguiram abrir a tampa e pular do veículo. Segundo afirmaram à polícia, no porta-malas havia um galão com combustível, forte indício de que seriam mortos e queimados.
Policiais paraguaios afirmam que até agora existem apenas suspeitas de ligação entre os dois casos. Temendo pela vida, os dois homens deixaram Pedro Juan e se mudaram para local desconhecido.
Protesto – Parentes e amigos dos irmãos desaparecidos estão organizando uma passeata para amanhã às 17h, no centro de Ponta Porã. O objetivo é cobrar apoio das autoridades locais e informações da polícia, que mantém silêncio sobre as investigações.
Segundo uma prima dos irmãos desaparecidos, a concentração será em frente à agência dos Correios, na Avenida Brasil. “Não vamos desistir até achar os meninos”, afirmou. O grupo já fez buscas em várias regiões do município, mas nenhuma pista foi encontrada.
O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Repressão a Homicídios, que tem sede em Campo Grande, e pelo próprio DOF, que instaurou um IPM (Inquérito Policial Militar) quatro dias após o desaparecimento.
Tanto a Polícia Civil quanto o departamento mantêm silêncio sobre o caso. Na semana passada, o titular da DEH e responsável pelo inquérito, delegado Márcio Obara, disse que nos próximos dias deve convocar uma entrevista coletiva para falar sobre o caso, mas não definiu a data.
Os policiais estão afastados. O DOF não revela detalhe do depoimento deles. Informalmente, logo após o caso chegar à imprensa, teriam dito que liberaram os irmãos logo após a abordagem, mas Rodnei e Ednei nunca mais foram vistos. O Golf preto de Ednei foi encontrado abandonado, no Paraguai.