Centenas de peixes mortos e milhares deles agonizando na superfície da água estão sendo vistos desde ontem (04) no Rio Paraguai, principalmente no trecho entre a ponte da BR-262 e o Forte Coimbra, no município de Corumbá. A mortandade, provocada pela falta de oxigênio na água, está ocorrendo a partir do ponto em que o Rio Miranda desemboca no Rio Paraguai.
Conforme o guia de pesca Sebastião Dias Marcelo, que nesta terça-feira percorreu cerca de 70 quilômetros pelo rio, o fenômeno da decoada estava ocorrendo ao longo de todo esse trecho. Os peixes são vistos principalmente nas curvas do rio, para onde são levados pela correnteza, já que estão tão fracos que nem conseguem definir o próprio rumo, explica o guia de pesca.
O Rio Miranda se espalhou pela planície pantaneira nas últimas semanas e por isso ocorreu a decomposição de muita vegetação seca e isso reduz a quantidade de oxigênio na água. E é por conta disso que está ocorrendo a mortandade, de acordo com o guia de pesca. “Essa água do Miranda desceu muito forte e está demorando muito para limpar”, diz.
Imagens feitas pelo guia mostram pintados de seis a oito quilos mortos em vários pontos do rio. Além disso, vídeos não muito nítidos, também feitos por ele, deixam claro que peixes de todas as espécies estão agonizando e muitos deles acabam morrendo, conforme o Sebastião.
Um áudio enviado ao Correio do Estado de uma moradora do Forte Coibra que ontem foi para o Porto Esperança dá uma dimensão mais exata sobre o fenômeno: “O Ênio, aqui é a esposa do Pedro. Ah, morreu foi muito pintado, muito, mas muito mesmo. Naquela chata ali no Sapucaia, tinha uns duzentos pintado lá, não exagerando. Duzentos pintadão mesmo, cachara. Muita cachara morta. Jaú morreu pouco. Mas muito pintado e pacu. Aí aqui pra baixo o pacu não morreu, mas muito pintado viu. Mas ali no Sapucaia morreu demais peixe, mas muito peixe, ficou feio o negócio aqui hein!”, descreve, impressionada, a pantaneira.
O guia de pesca não tem imagens deste local, mas garante que o relato é confiável e que possivelmente a maior parte destes peixes já foi arrastada pela correnteza nesta quarta-feira. Outros, de acordo com ele, já foram devorados por jacarés, outros peixes e aves. Ou seja, embora a tragédia ecológica seja grave, ela faz parte de uma espécie ciclo natural do Pantanal.
Por conta dos baixos volumes de chuva dos últimos anos, o fenômeno da decoada não era registrado no Rio Paraguai há pelo menos quatro anos, de acordo com Sebastião.
Nesta quarta-feira amanheceu chovendo na região do Forte Coibra e isso “deu uma amenizada na situação”, de acordo com Sebastião. Porém, como ele tira o sustendo levando turistas da pesca pelo Rio Paraguai, a decoada está provocando uma pausa forçada em seu trabalho, já que os peixes não se alimentam enquanto a qualidade da água está ruim e por isso os turistas nem vão para o rio, diz.
RIO MIRANDA
No último dia 10 de março o Correio do Estado publicou reportagem mostrando a mortandade também no Rio Miranda, na altura do Passo do Lontra, onde centenas de peixes apareceram mortos em decorrência da decoada. A situação melhorou depois que fortes chuvas chegaram à região e o nível de oxigênio na água melhorou.
Porém, a atividade de pesca, principal atrativo para os turistas na região, segue prejudicada até hoje, conforme Rogério Iehle. “Vivemos a incerteza de quando voltaremos a trabalhar. Já se vão cinco meses parado sem previsão de quando vamos voltar. O rio não dá sinal de melhora na água. Agora só estamos contabilizando prejuízo”, lamenta-se ele ao lembrar que antes da decoada a pesca era proibida por causa da piracema.
Na região do Passo do Lontra o nível do Miranda começou a baixar, mas mesmo assim a qualidade da água não melhorou, diz Rogério.