Em um intervalo de nove dias, Campo Grande conheceu - graças aos flagras - três episódios de casais fazendo sexo no carro. Quem está com a percepção atenta, pode perguntar: "O que acontece que, quando ocorre um caso, vários vão acontecendo em seguida?" Em casos criminais, por exemplo, já tivemos tristes notícias de feminicídios "em série", sequências de incêndios criminosos de veículos e até mesmo ataques em escolas. Mas, "psicologicamente falando", o que explica isto?
Baseado em estudos científicos, uma das teorias é o "gatilho", acionado quando ocorre a exibição da prática sexual em público. "As fantasias sexuais são, na grande maioria dos indivíduos, conteúdos reprimidos por questões sociais, familiares, religiosas, praticadas de forma reservada, ou seja, em lugares específicos para o ato. No entanto, quando ocorrem casos de sexo em público, alguns gatilhos podem ser acionados, principalmente se estão no inconsciente daquele indivíduo", afirmou o psicólogo clínico e hospitalar, André Luiz de Senna Silva, de 47 anos.
Conforme André, realizar uma fantasia sexual depende do tipo de relação que a pessoa se encontra, da confiança que possui no parceiro e se há desejo mútuo. Desta forma, o fetiche, a crença na impunidade e o uso de substâncias podem desencadear casos como estes, que chocaram alguns ou apenas viraram tema de conversas entre os campo-grandenses, nos últimos dias.
Já no sentido de sociedade, com a repetição de tais atos, o psicólogo ressalta a questão do "arquétipo coletivo sobre a sexualidade humana". "Este é um termo usado por Carl Jung para explicar alguns padrões de comportamento associados a um personagem, na qual todos nós reconhecemos de maneira igual. Por exemplo, temos o arquétipo da mãe, do herói, do político, dos animais e tudo isso se forma no decorrer da história da humanidade e passa de geração em geração", argumentou.
Imagem de 'sedutor' ou 'exibicionista' durante ato sexual
Neste caso, do ato sexual em público, o arquétipo possivelmente pode estar relacionado ao papel do amante. "No caso o sedutor, alguém que não mede consequências para atingir o êxtase sexual ou ao arquétipo do exibicionista, que perverte o ato sexual sem se preocupar com as normas sociais e éticas. São hipóteses, claro, já que cada caso deve ser analisado na sua singularidade e não apenas de forma generalista", ponderou o psicólogo.
Outro ponto, conforme o profissional, são as facilidades digitais que fazem muitas pessoas buscarem notícias sobre taras, desejos e práticas sexuais pouco convencionais e tudo isto vai ganhando destaque no inconsciente coletivo. "Caso seja verdadeira essa hipótese, suponho que não estejamos frente a um comportamento normal para uma sociedade racionalmente esclarecida. Por fim, sexo em público reflete a expressão de que algo não está em harmonia na vida do indivíduo ou do casal. De que o olhar do outro esteja sendo mais prazeroso que o real prazer que a atividade sexual proporciona", finalizou.